quarta-feira, 27 de julho de 2011

Para o meu amigo Mello...


“...Agradeço-te, pois, a vida
E tanto desventuras como venturas
Agradeço-te com uma fé pouca e humilde
Mas uma fé que, pela tua graça, há de possuir a imensidão do céu mais sublime
Onde a tua morada, mais que no meu coração, é fiel.”
Ancruz, 2004


Ouço as vozes do silêncio
O som das folhas caindo no chão
Vejo o céu azul de plumas brancas abrir-se na varanda
E sinto a tua presença
As ondas que vem, vão e levam no seu balançar
Os votos dos dias e do tempo
É teu soprar o movimento do mar
 É tua respiração a brisa fria desse outono
Vem do calor do teu peito o sol que me aquece a alma
E são tuas lágrimas incontidas, cheias de anunciação
A garoa fina que cai o dia todo sem ser abalada
É a primeira voz que me chama pra a vida todas as manhãs ao acordar-me
E é a última toda noite ao deitar-me , dizendo: Vai, descanse.
Não o vejo, nem o escuto
Apenas sinto sua presença
Não preciso mais do que isso
E dentro de mim , estou completo.

ANCRUZ, 15/06/2005

sexta-feira, 22 de julho de 2011

LÁGRIMAS EM FLOR


Olhe as flores do campo, vê como elas murcham?
Sufocadas pelo mundo, fenecem devagar
As lágrimas são tuas flores do campo
Os dias passados te fazem chorar, te sufocam
As lágrimas caem mortas
O calor da verdade foi levado
A pureza foi roubada
A pureza das flores
A verdade das lágrimas
As flores são vãs como tuas lágrimas
Tem apenas cor e beleza
São tuas lágrimas apenas
Com um brilho morto, frias, de tonalidade fugaz
Olhe as flores do campo
Muitas morrem, outras resistem
Vê como elas resistem?
As lágrimas são tuas flores do campo
Resistem para quê?
Sem pureza, sem dor
Resistem para que?

 “ só o passado surge se a dor surge,
  E o passado é como o último morto que é preciso esquecer para ter  vida”
 VINICIUS DE MORAES

Mulher,
Em teu nome o veneno e a quentura do último suspiro de dor
Em teu olhar, as falsa verdades que atam-te a mão
Em teu seio, o amor e a descrença de teus dias hereges
Virgem da primavera
Que as folhas permaneçam nos galhos e que o sol da próxima estação não tire o lume de tuas flores.
Banhe-se de luar nas noites frias de solidão
Mulher,
Que aprisiona tantas almas em teu espirito libertino
Que não salva sequer uma vida, rege apenas a sua, faminta
Em teus lábios a doçura da tristeza e tua voz amargurando a canção de amor.
Tu, anjo e demônio da vida
Reles sérvio do prazer
Escrava das noites, dos dias
Sonha as vidas roubadas, as almas perdidas
Em teus olhos o calor da tarde se desfaz em gotas de chuva
Em tua pele evaporam-se o pudor de teu seio nu
Em tua boca os desejos a utopia do amor.